Ela olhou em volta. Estava sozinha. Não. Havia um gato ali perto. Próximo ao banco, esperando ansiosamente que caíssem algumas migalhas do sanduiche. O tempo estava nublado. Nada mais adequado para essa ocasião. A solidão combina fielmente ao tempo fechado, a tempestade. Se bem que, chuva também pede companhia. No frio, o corpo deseja mais que nunca outro corpo. O contato, o toque, o calor de dois corpos se encontrando. A fusão de dois desejos, agora em um só. Aah, como ela queria uma companhia naquela tarde nublada. E no dia seguinte, e no outro, e no outro. Para sempre, até que para sempre durasse.
Ser só era algo muito fácil. Você não precisa de muita coisa para conseguir essa façanha. Ela gostava de ser só. Sentia-se livre. Independente. Mas algumas vezes, ela se sentia tão só que se tornava vulnerável da própria solidão. E disso, ela não gostava. Queria companhia pra ir ao cinema, a praia, a sorveteria. Alguém pra conversar. Sim, conversar. Ela precisa de alguém real pra conversar. Não que conversar com você mesma seja errado, mas, sejamos sincero. Até isso tem limite. Às vezes, você precisa conversar com outra pessoa, saber uma opinião de fora.
O gato se aproximou. Encostou-se na sua perna. Carinho. Ou não, gato é um animal interesseiro, talvez, esse movimento fosse totalmente intencional. Afinal, ele queria comer, não é mesmo? A aproximação era vital. Mas ela preferiu pensar como carinho. Sim, o gato talvez sentisse pena dela. Que decadência. Um animal sentir pena dela. E estava ali, dando carinho...
Uma gota. Começa a chover. Era hora de se recolher. Mas ela não se levantou. Deixou-se ficar ali, pra curtir a chuva. Levantou-se, correu, pulou. Brincou com as gotas que caiam. Ela ficou feliz. Era como se cada gota que molhava seu corpo levasse um pedacinho da sua angústia pra longe. Pra bem longe; O gato, coitado, correu da chuva. E não conseguiu as tão sonhadas migalhas. E agora, ela ficara sem sua companhia. Mas naquele momento, ela nem percebeu. Queria continuar ali, brincando. Pedindo pra que aquela chuva não parasse.
Ela cansou. Havia passado 2 horas desde que começara a chover. E alguém lá em cima escutou suas preces, porque, a chuva não dava tréguas. Voltou a sentar-se no banco, e quando ia se deitando nele, alguém se aproximou e pediu licença para sentar-se. Não que ela fosse uma pessoa mal educada, mas naquele momento, falou inconscientemente todos os palavrões que conhecia, e até inventou outros. Mas não tinha forças pra expulsar o pobre homem de lá, e não tinha motivos pra isso também, ninguém tinha culpa da sua infelicidade. Então, afastou-se e deu lugar pro pobre homem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário