Capitulo 3: Confissão
Finalmente as aulas tinham recomeçado. Assim teria com o que ocupar meus neurônios e não ficaria pensando em mais besteiras. Já fazia um bom tempo desde a minha conversa com Hugo e esperava que ao reencontrá-lo na escola, conseguisse disfarçar minha vergonha. Sim, eu ainda tinha vergonha pelo rumo que aquela conversa tinha tomado.
Eu estava um pouco atrasada. Para variar tinha perdido à hora: culpa do despertador provavelmente, ou minha? Ah, tanto faz. Comi o mais rápido possível e voei para o carro. Cheguei à escola as sete em ponto. Já tinha batido o sinal e todos se encaminhavam para suas devidas salas um tanto quanto apressados . Hoje minha primeira aula era de Embriologia e o professor Alberto não admitia atrasos: vedava a entrada de qualquer aluno, seja lá por qual motivo, depois do toque. Inutilmente, sai correndo pelo corredor e para minha não supressa, não pude assistir a aula. Mas se me servia de consolo, não veria Hugo.
Me dirigi para a biblioteca. Procuraria um livro e leria durante os 50 longos minutos de espera.Mas ai que quando abri a porta da biblioteca... Hugo.
- Alice. Oi. Atrasada de novo? – A voz sorridente de Hugo me recebia na biblioteca. Ele tinha escolhido sentar na primeira mesa, que ficava praticamente na frente na porta. Me encontrei meio sem jeito, senti que tinha ficado vermelha, tentei recuperar a voz e falei:
-Oi, Hugo. É, ainda não aprendi a chegar na hora nos dias de segunda... E você? Porque chegou atrasado?
- Precisava falar com você.
Pronto. Era tudo o que eu queria. O que Hugo tinha pra me falar que ele precisa perder a aula de Embriologia? Senti minhas pernas tremerem. Eu não precisava que ele me lembrasse da nossa última trágica conversa. Já estava tudo bem, então... pra que voltar a esse assunto.
- Falar o que comigo, Hugo?- tentei soar o menos curiosa possível, mas não sei se funcionou. Ele sorriu meio encabulado e começou a falar.
- Sobre a nossa última conversa... Queria esclarecer uma coisa...
Eu interrompi antes que ele prosseguisse, não precisava ouvir mais uma vez aquele NÃO.
-Não, tudo bem. Vamos deixar isso pra lá, certo? Você não precisa esclarecer mais nada. Ta tudo certo, já.
Hugo sorriu novamente, dessa vez mais desajeitado. E então falou:
- Você quer deixar eu terminar de falar, Alice? – Eu percebi que não estava conseguindo esconder minha preocupação, e fiquei ainda mais vermelha. Dessa vez, apenas acenei positivamente com a cabeça. Ele respirou um pouco, olhou em volta e depois pra mim, e ai começou novamente a falar.
- Bom, quando você me perguntou todas aquelas coisas... Eu disse que não. Bom... Eu menti, um pouco. - Ele parou novamente, percebi que ele agora estava ficando um pouco vermelho e sua voz estava um pouco desajeitada, meio falha.- Eu gosto de você. Sempre gostei. Desde o começo me identifiquei com você... Mas tinha medo. Por isso nunca toquei nesse assunto, e quando você me perguntou, agi como um burro. Eu queria ter tido tudo que sentia naquela hora, mas não consegui. E eu sei que você vai me achar um estranho, estúpido e com razão.
Ele parou de falar e eu apenas o olhei. Não tinha palavras. Não sabia o que pensar. Eu estava feliz, confusa, com medo... A forma como ele falou... Ele parecia querer sem o mais sincero possível, mais medindo as palavras e ate sendo um pouco meloso.
-Hugo, eu sinceramente não sei o que falar. É estranho. Muito estranho tudo isso. Eu... Eu fico feliz que você tenha me dito tudo, sério. De verdade. Mas, eu to sem reação.
- E se você apenas me perguntar, sei lá... O que a gente faz agora?- ele sorriu. E eu apenas sorri junto. Deixei ele se aproximar. Meu coração batendo fora de ritmo, acelerando e desacelerando loucamente. Aquela sensação de borboletas no estômago e minhas pernas desobedecendo meus comandos. A mão dele acariciando minha bochecha e como se a vida fosse filmada em câmera lenta, os dedos iam deslizando até alcançar minha nuca e com um movimento leve e preciso, ele me puxou ao seu encontro. Nossos lábios se encontraram medrosos e entusiasmados. Foi um beijo forte, caloroso e delicado.
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